Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Muito bonito o filme “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, de Beto Brant e Renato Ciasca. Quem vê Canal Brasil se lembra de que já sentimos que cenas de sexo serviam para produtores e diretores pensarem que assim imprimiriam força em obras que de outro modo não teriam força nenhuma. O que, é claro, as fazia ainda mais fracas aos nossos olhos. Isso chegou a um grau tão alto que passamos a imaginar que pessoas nuas em contato íntimo esvaziariam qualquer filme brasileiro. As exceções existem, mas não são suficientes (nem em número nem em intensidade) para desfazer o mal-estar. O fato de esse problema desaparecer no filme de Brant e Ciasca não é o maior dos seus méritos. O que parece incrível. É mais o modo como drama interpessoal e quadro social se entrecruzam no filme, com o roteiro sendo suficientemente dramático e sugestivo sem seguir sejam as regras dos filmes convencionais, sejam os vícios dos filmes de arte. Faz anos que não vejo um flashback tão bem chegado, tão independente de qualquer indicação de que se trata de um flashback e, no entanto, funcionar como histórico da personagem já conhecida de maneira clara e forte. Os atores estão muito bem (e a figuração luxuosa do povo paraense, cantando magnificamente bem nas reuniões religiosas, que parecem uma síntese de Teologia da Libertação católica, neoevangelismo e Santo Daime), mas Camila Pitanga é um acontecimento que faria o filme ser importante se fosse só pela sua atuação. Todos conhecemos Camila. Em “Redentor”, filme não suficientemente valorizado, ela era uma das mais belas mulheres da história do cinema, sendo Sophia Loren, Elizabeth Taylor e Ava Gardner ao mesmo tempo — sem se parecer com nenhuma delas. Mas aqui, ainda que, de fato, a gente saiba que receberia más notícias de lábios tão lindos, ela nos dá a boa nova da grande força artística.

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