Marighella

Em 1968 eu gostava de Marighella. Lamentei não ter podido participar do filme sobre ele: quase contribuí com apoio logístico para a luta armada (nunca contei isso de público e, como fui preso sem que os milicos tivessem nada contra mim — esse esboço de participação era um segredo entre mim e Lurdinha, minha valente e íntegra colega de faculdade que, como eu, preferira a dissidência de Marighella à sensatez soviética do PCzão —, não quis dar a meus algozes o gosto de confirmar que eles tinham algum motivo justificável para me prender) e, quando a revista “Manchete” publicou capa em que Gil e eu aparecíamos sorrindo no exílio londrino sob a foto de Marighella alvejado, escrevi texto para o “Pasquim” dizendo “Gil e eu estamos mortos. Ele está mais vivo do que nós”. Ninguém entendeu meu texto na época. Ouviram o nome de Marighella numa gravação em que ele não fora pronunciado, mas não captaram o óbvio explicitado nna crônica do “ Pasquim ”. Estar no exílio é também perder a noção de como funcionam as cabeças das pessoas que ficaram dentro do país.

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