O Brasil precisa dizer ao mundo

Odeio esse papo de imprensa golpista. Mas é fato que a imprensa brasileira tem o Estado oligárquico em seu DNA. E eu amo mais Vargas como figura histórica do que seus detratores. Começou copiando Mussolini, terminou assustando as oligarquias. Grosso modo, o conluio de Vargas com Samuel Wainer é algo mais progressista do que os jornais pró-Lacerda que viraram, anos depois, marchas da família com Deus pela liberdade. Nestas, viu-se que a mistura de plutocracia com moralismo católico vulgar é marca genética de nossas movimentações políticas mais antiga e mais resistente do que a que se revelou com a morte de Getúlio. Os blogueiros lulistas enfrentam internautas malucos herdeiros das marchadeiras. Será que todas as tramoias de Lula com os parceiros mais variados são mesmo mais progressistas do que toda e qualquer crítica que se lhe faça? Não creio. Não creio nem que as tramoias de Vargas, por mais estruturadoras do novo Brasil que tenham sido, devessem ser imunes a críticas — nem à época, nem agora. E a superação do estágio em que Vargas nos deixou requer coragem para que sejamos mais exigentes do que pudemos ser até aqui. Zuenir tocou na ferida, quando decidiu ousar não temer o udenismo. Será ele apenas a voz mais refinada da imprensa golpista? Jânio de Freitas insiste em que o silêncio sobre empresas, mesmo quando se malham políticos, é sintoma de uma sociedade que resiste a mudanças mais fundas. O que é inegável. Mas nem o carnaval contra os corruptos parece possível orientarse. As mesmas pessoas que estavam na primeira fila da passeata dos cem mil ou no comício das diretas ainda estão na festa da posse de Lula. E o povo iletrado só tem a agradecer.Votei em Marina para dizer que o número dos avisados é maior do que se pensa. A contagem dos votos confirmou. Novos critérios. A oposição não pode ser refém de reacionários fanáticos. Se um entrudo antiempresas corruptoras, mesmo com bonecos de Palocci, Dirceu e Nascimento, surgisse de surpresa,seria um sinal de saúde: o esboço de um pós-getulismo progressista, civilizador e moderno, levando o Brasil a dizer ao mundo o que este precisa ouvir.

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