Americanos

Americanos pobres na noite da Louisiana,
turistas ingleses assaltados em Copacabana
(os pivetes ainda pensam que eles eram americanos).
Turistas espanhóis presos no Aterro do Flamengo
por engano.
Americanos ricos já não passeiam por Havana.
Veados americanos trazem o vírus da AIDS
para o Rio no carnaval.
Veados organizados de São Francisco conseguem
controlar a propagação do mal.
Só um genocida potencial
- de batina, de gravata ou de avental -
pode fingir que não vê que os veados
- tendo sido o grupo-vítima preferencial -
estão na situação de liderar o movimento
para deter a disseminação do HIV.
Americanos são muito estatísticos,
têm gestos nítidos e sorrisos límpidos,
olhos de brilho penetrante que vão fundo
no que olham, mas não no próprio fundo.
Os americanos representam boa parte
da alegria existente neste mundo.
Para os americanos branco é branco, preto é preto
(e a mulata não é a tal)
bicha é bicha, macho é macho,
mulher é mulher e dinheiro é dinheiro.
E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se,
concedem-se, conquistam-se direitos
enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime.
E dançamos com uma graça cujo segredo
nem eu mesmo sei
Eetre a delícia e a desgraça.
entre o monstruoso e o sublime.
Americanos não são americanos
são velhos homens humanos
chegando, passando, atravessando.
São tipicamente americanos.
Americanos sentem que algo se perdeu,
algo se quebrou, está se quebrando.

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