O rock acertou, ACM errou

O rock acertou. Procuremos não errar demais agora. Peço perdão a quem de direito pelos meus erros. Mas não gosto de desrespeito aos fatos. Eu poderia explicar a Lobão que “Rock‘n’Raul” é uma canção de amor. Sem dubiedades. Pode não parecer menos confusa do que sua “Para o mano Caetano”, que me fez chorar (e que me levou a compor “Lobão tem razão”). Entendo que ele precisasse jurar que sua música para mim era uma canção de amor. Pode ser que alguns precisem que eu explique por que “Rock‘ n’Raul” também o é. Mas estou certo de que Raul sentiria o mesmo que sinto ao ouvir
“Para o mano Caetano”: amor. E nem sei se ele teria coisas a corrigir, como eu tenho no caso da canção de Lobão: por exemplo, a menção a ACM, como se eu tivesse alguma vez apoiado esse político.
Não desqualifico quem o fez, como Jorge e Zélia, Gal ou Brown. Mas ACM teve que conviver sempre com minha oposição. “Ninguém é meu dono”, era o que ele ouvia de mim. Dizer que ele era sexy era meu preâmbulo para entrar de sola no assunto da superação do caciquismo.
Quando Collor estava caindo, achei nobre que ele e Brizola fossem os últimos a continuar defendendo-o. Mas quando ACM, numa festa, se dirigiu a mim e a Gil para queixar-se d ter que seguir apoiando “esse canalha idiota”, gritei-lhe na cara: “Como você pode falar assim comigo? Vocês da direita sustentaram esse cara que nós fizemos tudo para derrotar e agora vem você me tratar como se estivéssemos juntos?”
Toninho Malvadeza ficou ralo. Olhou ao redor, pálido de raiva, e se afastou de fininho. Odeio ouvir, no avião, “pousaremos no Aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães”.
Não tenho nada contra o falecido deputado. ACM tinha a mania de homenagear seus parentes e amigos mortos usando o espaço público da cidade. O “monumento ao helicóptero desconhecido”,na Garibaldi,
é uma vergonha. Já disse tudo isso de público. Então rio frio quando Lobão repete a sigla ACM na canção que tem meu nome no título. Não atribuí a Raul nada que não lhe fosse pertinente. A “vontade feladaputa de ser americano” deu em Lobão, Teclas Pretas e Racionais.
E o “lobo bolo” é o “Lobo bobo” de Lyra e Bôscoli, em que se troca o “bobo” pelo anagrama de lobo, bolo, que é referência à confusão (quase nunca boba ou desinteressante) que Lobão causa.
Doeu-me ler, no seu envolvente livro (que afinal ele mesmo parece ter escrito) texto meu sobre o caso da lei de numeração dos discos. Ali eu me vejo contrafeito. Duramente claro quanto à retirada de meu nome do abaixo-assinado, deixo entrever algo escuro.
Não tenho rabo preso com interesses econômicos de gravadoras. Sou infantil quando se trata de vida prática e termos jurídicos. Devo ter sido persuadido da urgência de interromper a iminente aprovação da lei tal como estava.
Parece que não atrapalhou a chegada ao resultado conseguido. Mas à primeira olhada não me achei bem na fita. Num final de semana de angústias (além de tudo, vivi perto de Realengo entre os 13 e os 14 anos), sombras amedrontam. Assim vamos aprendendo.
Nem sempre estamos certos de que o sofrimento não serve para nada.

Um comentário:

  1. aqui em santo amaro na casa de dona canô ha uma foto de acm com uma linda dedicatoria a mãe do nosso mano caê

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